E assim seguimos nós, o desejo e o ideário da busca frenética da felicidade. Como se, ao se chegar lá, pronto, tudo está realizado, conquistado e viveram felizes para sempre.
Acontece que se tem a mania de se esquecer de se lembrar que somos humanos e, como tal, movidos pelos desejos. E se é nossa fonte de movimento, sem eles paramos, estagnamos no espaço e no tempo e talvez desejemos não mais viver porque não haverá mais o que se querer.
Por isso, não ter mais o que desejar é um perigo que pode nos derrubar.
E lá vem o grande paradoxo do desejo: é o que nos move, é o que nos consome. E, ao ser guiado exclusivamente por ele, pode ser que nos percamos em busca de algo que nunca alcancemos. Ou, assim que alcançar, a euforia da conquista vai passar e dali a pouco se terá algo novo a desejar e não se saberá administrar a frustração que ficará no lugar.
E esse desejo é um sujeito faminto, eclético e democrático. Afinal, há desejo para tudo: livro, roupa, sapato, cachorro, gato, viagem, moto, carrão, casa, cerveja, refrigerante, suco, mulher, homem, amante, dinheiro, paixão, sucesso, profissão.
É um desejo sem fim e sempre será assim.
Saber que tão logo um desejo se realizar virá outro em seu lugar é o primeiro passo para compreender o tanto que, muitas vezes, pode-se por tudo a perder: saúde, paz, tranquilidade, plenitude, tempo e, quiçá, aquele momento tão precioso de felicidade.
Não entendi…. A realização do desejo não era, justamente, para ser feliz?
Pois é cara-pálida. É aí que se cai na grande emboscada. Porque na corrida para se alcançar o ideário da felicidade, ali na linha de chegada se depara com o calvário que foi a realidade.
Sugere-se, então, que se pare de desejar? Não. Afinal, lembre-se, é o que nos move. E nos consome. Daí porque algumas vezes, melhor do que realizar é administrar.
Primeiro, aceitar: não, não se pode e não se deve ter tudo.
Segundo, aprecie, sem moderação, o luto e a frustração que vêm com a não realização.
Terceiro, pesar, sopesar, ponderar o quanto se está disposto a construir para realizar e o quanto se está preparado para derrubar, perder e refazer para conquistar.
E se depois da boa ponderação a escolha for mesmo o caminho da construção para se ter aquilo que se desejou, não é recomendável enrustir o desejo. Vai que entala na alma e se sufoca, de vez, a calma. Nessas horas é melhor abrir a janela e deixar o desejo fruir.
Mas não se esqueça, aproveite bem quando ele se realizar, porque a satisfação é efêmera e rapidamente encontrará outro desejo que, de repente, lhe invadirá o corpo e a mente.
Isso é ruim? Claro que não. Isso é humano, somos nós, somos assim. Desejamos, desejaremos, desejemos, até o fim.