A amiga chegou chorando. Desesperada. É que o filho lhe contou que é gay.
Impossível, como mãe, e de meninos, não abrir os abraços, dar abraço e o ombro para a amiga. E depois do susto é hora de acolhê-la para o luto. Aquele do filho idealizado. É minha amiga, não é fácil aceitar o filho que não é exatamente como sonhado. Seria no mínimo leviano, insensato e desumano se eu fizesse pouco caso de sua frustração.
Mas como mãe e, repito, de meninos (o que não deixa de se aplicar, igualmente, às mães de meninas), preciso lhe dizer que não, não sei exatamente o que é que você está sentindo porque os meus ainda são pequenos e não faço ideia de quem gostarão, mas sim, posso imaginar a ponto de quase sentir os detalhes de seu pesar.
É que eu também imaginei e tracei os destinos perfeitos para os filhos: infância feliz, adolescência em paz, profissões não necessariamente tradicionais mas bem sucedidas. Cada um com, pelo menos, dois filhos e noras que adorarão a sogra. E todos viveram felizes para sempre.
E de repente lhe vem à mente uma realidade diametralmente diferente.
É, minha amiga, não é fácil ter um filho que não é como se idealizou. Mas isso você já percebeu e por isso lhe dói e lhe corrói a alma. Então não vamos cair na vala comum do óbvio que é a dificuldade da situação. Assim cabe a mim trazer-lhe algo que talvez você ainda não tenha percebido e, bem por isso, possa lhe dar um novo ângulo na visão e, quem sabe, acalmar o coração.
Eu sei que é difícil aceitar o que não é padrão, daí porque insisto que a diversidade traz tolerância e compreensão. E talvez um jeito novo de enxergar a situação.
Não se assuste com o que vou dizer, respire fundo e reflita como se não existissem narizes que se entortam com aquilo que lhes cheira diferente: mas pensando, friamente, de que maneira a sexualidade de alguém afeta a vida de outrém? Vamos lá, pense bem. No pão nosso de cada dia a dia, na rotina, o fato dele gostar de menino, dela querer menina, do outro não querer ninguém porque descobriu que não gosta disso, ou de qualquer outra variação que não aquela do padrão ele-com-ela: que mal isso efetivamente lhe causaria?
E hoje em dia com a evolução da legislação (amém!) não dá nem para pôr a culpa da frustração na suposta falta de netos. A uma porque os casais gays podem muito bem ter seus filhos. A duas porque muitos casais héteros por aí não querem (ou não podem) procriar, o que invariavelmente lhe tirará a chance de ser avó.
Superada essa questão, veja o que é uma verdadeira aberração de contradição: o filho da outra amiga é preguiçoso, só arruma confusão, não avança na profissão, tem quantidade duvidosa de bondade no coração, mas tudo bem, os narizes não entortam porque em casa ele vive no padrão. Ele gosta de mulher, ufa.
Enquanto isso, o filho da vizinha é um sujeito incrível, educado, um grande advogado, ou um médico excepcional, ou um escritor genial, ou, independente da atividade e/ou sucesso profissional, trata-se de um menininho com um coração gigante, sem igual. Mas quando ele passa tem sempre um nariz para lembrar: ei, você sabia que o filho da vizinha é gay?
E então, minha amiga, por isso lhe digo que se a vizinha for você ou se um dia for eu, de fato, não é fácil não ser igual. Mas cabe a quem não é e, principalmente, a quem mais perto dele estiver, tornar a diferença algo mais leve, mais trivial, e sobretudo sensacional e genial, não exatamente pelo o que se difere mas, especialmente, pelo o que se é e não por quem se quer dormir ou dividir a vida.
E veja mais uma situação que foge à sensatez: se eu entro em algum lugar, sabendo que sou hétero, ninguém imagina ou se importa com quem me deitei. Mas se ali pela porta quem passa é o gay logo as mentes se põem a pensar em como ou com quem ele vai se deitar.
É claro que eu, aqui da realidade nua e crua, sei que ainda vai um tempo até que ninguém mais se importe com quem o outro se deita. Porque certamente haverá um momento ali no futuro (no qual provavelmente não mais estaremos aqui entre nós) em que o preconceito com a orientação sexual alheia será visto com a mesma indignação que é, hoje, a escravidão.
Alguém até pode me lembrar que ainda há gente (e muita) para quem a cor da pele continua uma questão. Bom, para esse pessoal, perdoe-me mas agora não vou perder meu tempo, não. Deixemos isso para outro texto.
E assim, minha amiga, encerro a conversa enxugando-lhe suas lágrimas, segurando-lhe os ombros e olhando-lhe fundo nos olhos: sim, seu filho não vive no padrão e infelizmente narizes lhe entortarão. Mas veja só, esses narizes se entortam para tanta bobagem: a filha gordinha, o filho gordão, os filhos negros, as filhas que não têm a bolsa da última coleção…
São tantas ideias pré concebidas em tantas coisas que não afetam as outras vidas que o melhor a se fazer, quer saber, é abraçar seu incrível, lindo e maravilhoso filho, dando-lhe a mão para que saia do armário sabendo que ele a tem ao lado, mostrando-lhe que nenhuma opção ou orientação pode ser mais importante do que quem ele é na real, ali no fundo profundo do coração. Mesmo porque, minha amiga, se ele chegou a lhe fazer essa declaração tenha a certeza do quanto seu pequeno coração já sangrou por não fazer parte de um egoísta e, muitas vezes, cruel padrão.
E quando estamos falando de filho, esse incrível ser que a vida nos concedeu a honra de conceber, perdoe-me a sinceridade ainda que contra a maré de parte da humanidade, mas para o inferno o nariz que se entorta. Se gay, hétero, bi, tri, trilili, pouco importa, meus filhos não me orgulharão por quem eles escolherão dividir a cama e a vida, mas por quem eles são e serão.
Uau!!!!! Uau!!!!! Amiga! Você é uma incrível mãe-pensadora-escritora-advogada! Lindíssimo texto!! Te amo
Amiga, irmã-querida, amor recíproco, você sabe disso. Obrigada pelo apoio, carinho, cumplicidade, parceria e aquela coisa toda que quem tem amigo-imão sabe.
P. P. Prado » Arquivos » Seu filho é gay. E agora? Sou Gay e estou indicando este site o Namoro Gay! Quem procura um amor ou amizades e é Gay ou Lésbica, acesse http://www.namorogay.com.br/ Fica a Dica Amigos!
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