Porque o Eneagrama só nos auxiliará nas transformações que buscamos em nós se nós nos movimentarmos para tanto. Se nós caminharmos. Se nós nos dedicarmos às mudanças que queremos ver em nós. Como assim?
Assim: o Eneagrama, em linhas gerais, pode ser definido como um mapa. Na verdade, dois. Um sobre nossa personalidade (ou ego) e outro sobre nossa Essência (quem somos genuinamente além da personalidade).
Ocorre que mapa não é o caminho, é o traçado de sugestão para ele. Mapa não é a jornada. É o indicativo de como devemos segui-la para não nos perdemos.
Portanto, quem fará o caminho, quem fará a jornada somos nós. E para onde? Para dentro. Dentro de nós. Para as profundezas de nossa psique, para as descobertas (ou redescobertas) daquilo que muitas vezes não queremos ver porque recalcamos o que, no fundo, sabemos sobre nós mas relutamos a enxergar. Para o nosso passado, ali na infância, onde começamos a desenvolver nossa personalidade com base naquilo que o mundo externo nos mostrava, ou com base naquilo que percebíamos e interpretávamos desse mundo externo.
E olhar para tudo isso, mexer nisso tudo dói. Dói porque se entalamos, recalcamos, colocamos ali nas profundezas das sombras do inconsciente tudo isso é porque nossa criança precisou fazê-lo, seja para se proteger/defender, seja porque manter isso na memória viva doeria demais e talvez ali, enquanto crianças, não daríamos conta de suportar.
Ocorre que ao crescer e para crescer, para nos tornarmos genuinamente adultos e mudarmos os padrões que nossa criança começou a desenvolver é preciso olhar para esse passado, ver onde tudo começou. Porque sem acessar essas sombras e dores a jornada será superficial e ilusória e nos fará compreender só até a página 2 de nossa história.
Aliás, como um livro que é, nossa história continua sendo construída diariamente. Portanto, os mapas que o Eneagrama nos fornecerá dirá quem somos dentro das tendências de nossos padrões de comportamento, de pensamento e de sentimento, dirá quem somos dentro das virtudes e ideias superiores da nossa Essência, dirá as prováveis razões pelas quais nos constituímos assim. Mas quem diz não faz. Porque o mapa dirá mas quem fará seremos nós, a depender de nossa disposição em percorrer essa jornada, encarando as belezas, as delícias e os delírios de se descobrir quem se é genuinamente. Com tudo aquilo de mais belo e mais pavoroso que temos dentro de nós. Todos, todas, sem exceção. Porque ainda que não manifestemos nossas mazelas, elas estão aqui dentro e precisam ser desvendadas e desbravadas, justamente para nos autoconhecermos e nos autodesenvolvermos de forma sustentável, genuína, profunda e contínua (só pararemos no dia em que nossos olhos físicos definitivamente fecharem).
Por isso, o Eneagrama, assim como qualquer outro sistema de autoconhecimento e autodesenvolvimento, não faz milagre. Faz trazer clareza para o caminho a ser percorrido para que nós, dentro de cada um de nós, conforme nossa história única e individual, nos descubramos, nos desbravamos e, aí sim, via processo, permitido-nos fazer escolhas conscientes de movimentos que possam nos tornar seres melhores, no sentido de manifestarmos para nós e para o mundo o que temos de melhor, sem excluir, esquecer ou negar nossas sombras, nossas dores, nossa caminhada até aqui.