Tenho amigos queridos que acham que o mundo e tudo estão ficando muito chatos com esses politicamente corretos para todos os lados. Não posso mais fazer piada com mulher, gay, negro(a), gordo(a)…Assim não vai dar. Aonde isso vai nos levar? Acredite, para um mundo muito mais interessante e divertido de se morar.
Veja. Não estamos querendo tirar sua diversão. É que de uns tempos para cá a gente evoluiu (isso às vezes acontece!) e vêm compreendendo que piada legal é aquela em que todo mundo riu.
É claro que todo exagero faz mal e a bandeira levantada, que é legal, acaba sendo estigmatizada e deturpada. Daí porque, hoje, para muitos, ser politicamente correto parece errado. Acredite, o culpado é o comportamento exagerado que não sabe ponderar e transforma a ideia progressista e de bem estar geral em algo do mal, a ser evitado.
Mas tenho certeza que é possível tirar seu cérebro desse estado enclausurado para compreender o que está sendo falado. É que pode não parecer mas quando se habita uma pele feminina ou negra ou homossexual ou diferente do padrão de beleza irracional, ouvir o outro fazer piada com sua condição pessoal magoa e, pior, de tanto ouvi-la faz a própria pessoa achar que é mesmo normal. Não é! E esse parece ser o verdadeiro mal: achar que está tudo bem, que é assim mesmo, o que é que tem?
Se até aqui a reflexão ainda não lhe convenceu, que tal se valer daquela tal de empatia para imaginar o que você sentiria se fosse mulher, ou negro ou homossexual ou fora do padrão usual por um dia? Aí você faz alguma bobagem no trânsito e alguém grita que só podia mesmo ser mulher. Ou você fica nervosa porque é do humano assim ficar e alguém desdenha seu humor perguntando se vai menstruar. Ou você, agora negro, cometeu um equívoco no trabalho, como todos um dia o fazem, e ouviu o chefe bufar que era óbvio que se não foi na entrada, na saída um dia iria defecar. Ou você, agora homossexual, passa um dia ouvindo o macho-alfa-branco chamando o amigo de “bicha”, “veado”, “biba” como se sua orientação sexual fosse uma aberração e, por isso, motivo de zoação. Ou você, agora acima do peso, ouve o amigo brincar que gente gorda, se não for muito legal e adepta de diversão não serve nem para segurar portão.
E depois de um banho de empatia, quem sabe o amigo consegue compreender que o que parece só uma piada inofensiva, para o caçoado ela não será nada divertida.
E assim, na ponderação entre o seu direito de fazer piada com quem bem entender sob o argumento de que isso é só uma brincadeira, eu prefiro o direito do outro de não ser objeto da sua zoeira.
E lembre-se! Muito cuidado com o exagero! Não sou a favor do fim da graça. Ao contrário! Porque o dia a dia da rotina já é muito sério para perdemos o alívio delicioso da risada. Por essa razão, a medida para não perder a mão da piada é sempre a reflexão de que ela será, de fato, engraçada, se não foi só você quem deu risada.
Por isso, daqui para frente, quando achar que o politicamente correto está errado e que o mundo está ficando chato, reflita que é porque alguém deve ter exagerado e, mais uma vez, deturpou uma bandeira tão legal, contribuindo para a estigmatização que acaba com a nossa boa reflexão.
Reflitamos. Melhoremos. Gargalhemos. Juntos.
Fiquei encantada com o post. Espetacular. Parabéns
Obrigada!!!!