O Mundo

Por que a empatia é tão escassa hoje em dia?

12/05/2017 • 0 Comentários

Não conheço alguém que diga que não quer o bem. São raríssimos os casos em que a psicopatia assola o sujeito de tal forma que o faz verbalizar que, na verdade, quer a maldade.

Mas entre nosso querer declarado e nosso fazer real pode haver um enorme espaço oculto que, por vezes, foge da nossa própria percepção mental. Vejamos.

Partamos de uma premissa básica, para não cairmos na vala comum dos conceitos superficiais que nos levam a discursos rasos e banais: ao contrário das novelas, dos desenhos, dos filmes e de nossa frutífera imaginação, aqui na vida real não dá para nos dividirmos entre mocinho e vilão.

Porque no fundo profundo de nosso coração e nos cantos não aparentes de nossas mentes, somos habitados por muitos de nós mesmos: nosso lado bom e nosso lado mau.

É verdade que o percentual varia e só é conhecido por cada qual. Mas o fato, muitas vezes desapercebido pelo outro umbigo, é que ninguém é 100% ruim ou legal. Daí porque poucos (pré)conceitos me incomodam tanto quanto a expressão “cidadão de bem”.

Nessa hora o amigo entorta o nariz. Eu sou do bem! Sou honesto e trabalhador. Sou educado e sempre cumprimento o zelador. Agradeço todos os dias pelas bençãos concedidas pelo Senhor.

O amigo não está equivocado, ele só está se esquecendo de seu outro lado. Aquele que o faz pensar, muitas vezes, única e exclusivamente no próprio umbigo. E isso pode acontecer sem ele perceber e se dar conta do mal que isso causa, quer ver?

Quando o amigo começa um relacionamento e esquece de terminar ou de avisar que já pertence a outro par. Quando o amigo acha um absurdo o preço da faxina do seu lar, afinal, quem mandou ser preguiçoso e não estudar? Quando o amigo acha um absurdo o funcionário faltar porque tem que acompanhar a esposa ao hospital, que, de tão mal não consegue caminhar (ela que se vire e pegue um circular!). Quando o amigo quer pagar o mínimo possível para o máximo lucrar. Quando o amigo adora ridicularizar o formato do corpo de quem gosta mais de comer, a mulher que gosta de namorar como bem entender, o menino que tem um jeito mais “feminino” de dançar, a menina que tem uma forma mais “masculina” de se apresentar. É só uma piada e você está muito chata, ele vai bradar.

E não param aí os tantos outros pequenos e grandes exemplos do “cidadão de bem” no seu dia-a-dia, que, na verdade, escondem sua enorme falta de empatia.

Porque ser empático não é ser simpático, é habitar, efetivamente, a pele de quem não é a gente. Nem que seja efemeramente, apenas para você sentir, por um instante, o que o outro sente.

Ou, se facilitar a compreensão, é imaginar que aquele sujeito, alvo do esquecimento, do descaso, da piada, do sarcasmo, da exploração, da exclusão, poderia ser seu irmão. Ou ainda aquela máxima da nossa infância, quando mamãe dizia: não faça com o outro o que, se lhe fizessem, você não gostaria.

E se nada disso adiantar, vale imaginar que aquele ali é seu filho ou sua filha. Vai aí um bom instrumento infalível contra a falta de empatia.

Porque, meu amigo, sem empatia sobra o que temos hoje por aqui, ali e acolá: um amontoado daquele tal de próximo, cada vez mais distante, um bando de gente que, simplesmente, é incapaz de sentir o que o outro sente.

E se era ruim para Bauman a modernidade líquida, imagina se a coisa piora e ela fica gasosa. Porque o líquido a gente ainda segura em um copo que, obviamente, pode se quebrar a qualquer momento. Mas o gasoso, por não se enxergar, perde-se no ar, deixando apenas um forte odor de estrume, ao qual atribuímos sempre ao outro. Afinal, é bem mais fácil culpar quem está ao lado pelo flato acidenta ou proporcionalmente escapado.

E nesse ciclo de “não-fui-eu”, o cidadão que tem a convicção que é “do bem” vive para se enxergar, e a mais ninguém.

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Patrícia
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