Nós e Eles

Por que nosso corpo não é seu?

10/03/2016 • 0 Comentários

Há homens que respeitam. Que não avançam sinais que não lhe foram abertos. Que ouvem. Que entendem o não. Que fazem por merecer o sim.

Há homens que amam verdadeiramente as mulheres, de corpo e alma.

Há homens que amam verdadeiramente tão somente o corpo.

E quando um passa, salivam.

Há homens que disfarçam. Há homens que não. E fazem questão de deixar claro que você é tão suculenta quanto uma porção de picanha.

É compreensível a admiração. Afinal, nosso corpo é mesmo incrível. É ele que, no ventre, produz gente. No seio, amamenta com leite. No sexo, alimenta a mente.

E esse corpo é mesmo tão sensacional que, apesar das imposições daqueles velhos e discutíveis padrões, não deixa de cumprir suas belas, nobres ou, simplesmente, deliciosas funções, independente de uma barriga chapada, de uma bunda arrebitada, de uma gordura a mais, de centímetros de altura a menos, das rugas da maturidade, dos reflexos da implacável lei da gravidade. Não importa, na hora do parto e ali na cama, na horizontal, a imagem do espelho perde qualquer suposto papel principal.

E se é certo que cada um tem uma forma, uma cor, um tamanho, é curioso que muitos homens, mesmo os que respeitam, às vezes esquecem algo tão básico e trivial: esse corpo que você tanto deseja e cobiça e baba e acha uma delícia não é seu. É meu.

E sendo propriedade única e exclusiva da mulher que mora ali dentro é preciso lembrar aos amigos, namorados, desconhecidos, rolos e, quiçá, maridos algumas regras às vezes esquecidas sobre peitos e bundas:

1. Olhar é permitido. Mas com muita cautela, quase que escondido. Disfarce todo e qualquer desejo que lhe passe pela cabeça. E jamais, em hipótese alguma, permita que seja ele revelado à dona do corpo cobiçado. Única exceção: se ela estiver nítida e indubitavelmente cobiçando também o seu.

2. Se aquele corpo está pouco despido é porque a sua única e exclusiva proprietária assim o quer, e nunca, jamais, em hipótese alguma pressuponha que é porque ela lhe quer.

3. Igualmente, nunca, jamais, pressuponha que a roupa que a dona daquele corpo escolheu usar é sinal de que ela lhe quer dar, ou, mesmo, emprestar.

4. Ainda que você ache que aquele corpo está lhe dizendo sim, qualquer mudança de atitude que lhe indique um não significa que você deve parar imediatamente a mão. Porque, sim, o corpo tem direito de mudar de opinião e a pena para quem não respeita isso é a prisão.

5. Sempre que você tiver dúvidas sobre como melhor agir em relação àquele corpo (especialmente se a dona não lhe deu qualquer tipo de intimidade) fica a dica: faça de conta que você é o vizinho e aquele corpinho pertence à sua mãe, ou sua irmã, ou sua filha. Certeza! Você saberá se conter e não ultrapassar a linha. Você não olhará para o decote da blusa como quem já se lambuza. Você compreenderá que aquele corpo incrível, lindo, admirável é digno de absoluto e profundo respeito. Afinal, ele não é só uma bunda e um par de peito.

É que você se lembrará que dentro dele há um tal de ser humano, que não está pedindo nada demais além de ser visto como mais, muito mais do que um pedaço de carne produzido para lhe saciar.

E no fim do dia, depois de saber respeitar, você aprenderá que, sim, é permitido e recomendável flertar, mas única e exclusivamente com quem expressamente assim lhe indicar.

E então, estando certo de que não ultrapassou nenhum sinal, vai lembrar que aquela moça incrível também tem um corpo fenomenal, que ela não vai apenas lhe dar, mas compartilhar, o dela ao seu, ali nas delícias do breu, onde tudo o que se quer é permitido desde que consentido.

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Imagem: https://www.instagram.com/antesnuadoquesua/

Patrícia
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