Alguma Outra Coisa

Por que pensar diferente não faz do amigo um inimigo?

18/03/2016 • 0 Comentários

O amigo brigou com a amiga, que brigou com a tia, que não fala mais com o primo, que desligou o telefone na cara do vizinho, que xingou o colega, que virou a cara para a mãe, que discutiu com o pai, que jurou que nunca mais fala com o irmão.

Tudo por causa de uma opinião.

É que o amigo tinha certeza absoluta que ele estava certo. A amiga sabia que era ela quem tinha razão. A tia sabia que quem não pensava como ela era porque apoiava o ladrão. O primo não tem dúvida de que quem de sua ideia não compartilha é porque gosta da quadrilha. O vizinho estava certo que quem não apoiava a ideologia socialista, era fascista. O colega, de um jeito claro e simplista, bradava que aquele que tinha outra visão da coisa era comunista.

E nessa guerra de opinião, acabou-se a discussão. E tudo virou uma grande confusão.

E se um dia Saramago vislumbrou um mundo tomado pela cegueira, nessa terra de grandes olhos, viu-se um Ensaio sobre a Surdez. Ninguém se ouvia mais. Eram gritos, urros, brados, portas que se fechavam, telefones que eram desligados e dedos ensandecidos surrando os teclados. O que antes era uma rede social, uma mesa farta de domingo na casa da avó, um happy hour no Bar do Coronel, virou uma grande torre de Babel.

Ninguém mais se entendeu, só porque o outro pensava diferente.

E alguém lembrou que lá no Direito Penal não se punem opiniões, não se pune quem se é mas o que se faz.

Mas isso não importava mais. Não pensa exatamente como eu: pensa como o ladrão, ou como o reacionário, ou como o comunista, ou como o fascista, ou o nazista.

Mas no meio da cegueira e da surdez coletiva sempre dá tempo para abrir bem os olhos e os ouvidos para perceber que o outro, apesar de não compartilhar de sua opinião, não precisa ser seu inimigo.

Ao contrário, já que na divergência de posição pode nascer boa solução a problemas que, no final das contas, atinge todos ali da nação.

No mais, que não sucumbamos na trincheira passional da guerra de opiniões. Que, no final, sejamos salvos por algo mais racional. Que não precisemos ir para Cuba, para Miami ou para a desafortunada que o pariu. Que possamos ficar e viver e conviver aqui mesmo no Brasil.
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Patrícia
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