Nós e Eles

Por que um de quarenta é melhor que dois de vinte?

17/09/2016 • 0 Comentários

Hoje ele faz quarenta anos. Há onze, comigo. E depois de mais de um década de convivência visceral, carnal, na alma e no peito, dá para afirmar que o conheço bem e direito.

E posso lhe assegurar, ele é um sujeito engraçado. Daquele tipo nada delicado. Na vida profissional, comportamento exemplar, excepcional. Na vida real, deliciosamente inadequado.

Quem de fora vê pode mal compreender. É que parece que ele não se importa, porque adora uma chacota e o próprio umbigo e é capaz de quase perder o amigo mas nunca a piada. Mas não se engane, isso é só uma divertida fachada.

Porque ali dentro daquele peito inflado de quem é dono da situação mora um senhor coração. Daqueles gigantes, tamanho família, para caber toda a dele, mais os amigos que quase foram embora depois da caçoada, e outros tantos desconhecidos que ele tão bem acolhe, especialmente se a conversa estiver regada a uma boa cervejada.

E se um dia, por causa dessa mania de piada, algum desavisado achou que ele pudesse valer nada, advirto: cuidado! Abra o olho, porque você pode perder a oportunidade de ter ao seu lado um sujeito de reputação ilibada. Daquele tipo de amigo fiel que jamais vai lhe deixar na mão. Ao contrário, se um dia estiver na lama, ele vai lhe acolher ali no chão, e, então, você vai conhecer seu verdadeiro coração.

Eu conheço. E por isso lhe digo: não troco por nada, não.

É bem verdade que às vezes eu queria mais… É essa minha mania de idealização da situação. E como uma romântica enrustida que sou, mentiria se dissesse que não sinto falta de uma porta do carro sendo aberta, de um presente dado sem motivo, de flores fora de alguma ocasião especial ou de uma demonstração de preocupação se tenho frio ou passo mal. Mas se ele não faz tudo exatamente do jeito que eu sonharia, é porque, na verdade, ele faz o que talvez ninguém faria. Afinal, aqui em casa eu sou mesmo a rainha que se põe a governar, do jeito que o desejo queria.

Aliás, aqui dentro eu não preciso me preocupar muito com a nossa necessidade urgente de se empoderar. É que ele não é mais só um marido que sabe ajudar. Mas um parceiro daqueles que te chama para dividir a vida, no lar, no bar, em qualquer lugar. Daquele que chega em casa e quer te contar e te escutar. Daquele que na pior fase de sua vida te segurou as mãos e falou: estamos juntos, vamos lá. Daquele que, se às vezes ensaia uma recaída àquela cultura machista que ainda faz parte de sua geração, basta lembra-lo do deslize que ele, rapidamente, aciona a reflexão e retifica a posição.

É claro que a vida perfeita é aquela dos contos de fadas que termina com um sim no altar. Ou seja, aquela cujo final, na verdade, nunca ninguém veio nos contar. Porque, meu amigo, fácil é se apaixonar e depois ir lá casar. Eu quero é ver a Cinderela, a Bela e a Aurora depois que o primeiro filho nasce, ou o segundo, e quando o mundo não é mais rosa e a paixão em verso e prosa se vai. Quero ver o tamanho do amor quando o Príncipe se estressou porque alguém não lhe pagou. Ou quando o chefe da Princesa a dispensou.

E se ali no livro e no filme é sempre feliz o final, aqui é mais, porque é real.

Isso sem falar que meu sapo particular fica melhor com o tempo e seu passar. Porque não tem coisa melhor do que a intimidade construída. Aquela que faz o outro conhecer sua alma e seu corpo como ninguém.

É aquele momento em que você pode lhe olhar e, sem receio, falar que hoje não vai rolar dar, mas a gente pode, porque não, emprestar. É o tal do amor libertador. Sincero. Honesto. Genuinamente avassalador.

É por isso e tantas outras coisas que só quem o conhece pode afirmar: você está melhor do que sua invejável auto-estima imagina. E não vou lhe negar: daqui 40 anos eu quero mesmo é estar aqui ou lá. Com você. Sempre. Para sempre. Em qualquer lugar.

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Patrícia
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