A amiga é mãe e andou escrevendo por aí coisas que andaram chocando e, consequentemente, entortando alguns narizes.
Confesso. Às vezes é, sim, chocante ouvir um relato de uma mãe de verdade. Daquelas bem distantes das propagandas de margarina e bem próximas da realidade. É que ao se ouvir um desabafo nu e cru, sem filtro ou edição tem-se uma equivocada impressão. Talvez a de que aquela mãe não tem coração ou está em depressão. Mas, justamente, como mãe, devo fazer outra confissão: É que se a outra teve coragem de desabafar bem alto, para quem quisesse escutar, muitas vezes nosso desabafo vem escondido, mas está lá velado no fundo do peito, quase no mesmo sentido.
É que ser mãe é, sim, incrível. Tenho dois e teria mais. Talvez três ou, quem sabe, quatro. Mas deixemos isso cá entre nós porque se o marido ouve se arrepia e pode fugir de casa. Não corremos esse risco. Criar filho já é difícil, quiçá sozinha. Mas, justamente, por gostar tanto de ser mãe e não ter qualquer dúvida sobre as delícias da maternidade é que compreendo os delírios e os terrores da realidade.
Não, meu amigo que não tem filho. Não é fácil. Não, minha amiga que tem filho, não é fácil para a outra amiga. Porque o seu filho não é o dela e se o seu não lhe dá muito trabalho hoje, é possível que lhe dê lá na frente. E, então, será você a amiga a desabafar e entender a gente. E compreender o pesar que assombra a realidade de muita maternidade.
E aos narizes que se entortam (inclusive aqueles que têm filhos) é bom sempre lembrar que ser mãe é não ter hora certa para acordar, para dormir, para comer, para namorar. É passar noites em claro só desejando a simplicidade que é fechar os olhos para dormir. É não saber o que fazer quando o filho está indo por um caminho que foge ao idealizado. É não saber se o melhor que se está fazendo é o melhor para ele (porque não conheço pais que não desejem o melhor para a cria apesar de algumas vezes fazerem, justamente, o pior, quando se cria). E é tudo isso e muito mais, acrescido a um tipo daquele tal de amor que só quem tem filho consegue compreender a dimensão.
Não, não me leve a mal. É claro que o amigo não é pior. Ele não tem filho, seja qual for o motivo, mas tem que conviver com suas próprias questões e problemas e dilemas. Mas, acredite, criar um ser humano (daquele jeito que se deseja que seja o melhor, seja lá o conceito que se tem sobre isso) é, apesar de tão trivial em uma humanidade que vêm criando a milhares de anos, uma das tarefas mais incríveis e árduas da realidade de quem se cria.
Por isso e por tantas outras razões que não cabem em um mero texto de internet é que clamo aos céus e aos narizes que se entortam: cuidado ao julgar o desabafo da mãe ao lado, porque sê-la é incrível mas, algumas vezes, muito pesado. E ao jogá-la à cova dos leões perde-se a oportunidade de acolhê-la para, justamente, ajudá-la a carregar o fardo que é o mundo e, principalmente, ela mesma, exigindo-lhe a perfeição. Nunca serão. Nunca seremos. Aceitemos. Suavizemos.