Outro dia fui assistir uma peça infanto-juvenil belíssima, delicada, sensível e engraçada (“O príncipe desencantado“) sobre um príncipe que não queria casar com a princesa mas com um outro príncipe.
E nesse desencanto do dia a dia, fiquei encantada pela possibilidade de assistir a peça, tanto para prestigiar um querido e talentoso amigo que faz o papel principal, como também para levar meus meninos pequenos a esse musical, por uma razão importantíssima e especial: nossa cultura é monopolicamente heterossexual, com milhares de contos de fada e aventuras sobre meninas e meninos que se apaixonam e se casam e vivem felizes para sempre. Ou seja, nossas crianças passam anos da vida sem ter noção acerca da existência de tantos outros formatos e possibilidades de amor e seus encontros.
O vizinho entorta o nariz e se arrepia ao imaginar que seu filhinho machinho, ao saber que meninos podem se apaixonar por outros meninos, também pode querer se apaixonar por um. Aí… pronto… o mundo todo vira homossexual! Onde é que vamos parar? Como é que vamos procriar?
Então a gente tem que pegar o vizinho pela mão e explicar a ele que não é a exposição à diversidade que orientará a sexualidade.
Ora, fosse a amostragem a qual uma criança é submetida a fonte da escolha acerca de quem ela vai querer dividir a vida, não haveria diversidade alguma, seríamos todos meninas e meninos se apaixonando e se casando. Afinal, é só isso que para nossas crianças é mostrado por todos os lados.
Algumas escolas até tentam educar na diversidade e, apesar de haver livros lindíssimos mostrando vários formatos de famílias, com dois pais, duas mães, etc, talvez isso ainda não seja suficiente para dar às crianças pequenas a noção de que casar e constituir família significa se apaixonar pelo outro, que pode ser do mesmo gênero que o do dela.
Então, apesar da criança passar anos vendo apenas meninas beijando e abraçando meninos nos contos de fada, uma dia ela percebe que há algo “estranho” em seu coração, é que ela começa a sentir atração por alguém de seu gênero e se sente uma aberração.
Ou ela vai se perceber heterossexual e quando descobrir que a amiguinha quer namorar a filha da vizinha vai pensar que isso não está certo não, como ainda pensam muitos de nossa geração.
Por isso, vizinho assustado, é que quanto mais nossas crianças conviverem, perceberem, olharem, enxergarem a diversidade, mais aprenderão que normal também é a diferença e não só o padrão imposto pela sociedade. Isso lhe dará a capacidade de sentir empatia e respeito e tolerância por quem lhe difere. Ou, caso seja ela a “diferente”, lembrará que, na verdade, há tantas que lhe são iguais, sabendo, então, que ela não é uma aberração por não fazer parte desse suposto padrão. E, nesse caso, isso pode lhe dar a chance de abrir a porta de um armário sombrio e solitário, para se libertar e lhe permitir viver em paz sua vida real e não aquele imaginário que os pais sonharam como o “ideal”.
Assim, se para muitos de nossa geração ainda é difícil fugir de uma mentalidade conservadora e, combinemos, irracional, podemos verdadeiramente dar uma chance de mudança a esse mundo doente, por meio de nossas crianças, que crescerão compreendendo que não há nada mais natural do que cada um ter diferentes cores de pele, de formatos de corpo, de profissão e de orientação sexual.
Muitto feliz com suas reflexões e sensações… Orgulho de fazer parte deste espetáculo tão linddddo!!!!
Maite! Muito obrigada por sua manifestação aqui nesse espaço. E, a propósito, parabéns pela belíssima atuação!! Onde posso acompanhar seus outros trabalhos?