Um dia, ali no passado, ouvi um pai dizer que bateu no filho porque ele apanhou na escola. Onde já se viu, menino? Precisa aprender a se defender!
E como o passado insiste em viver no presente é sempre bom refletir como se ensinar o filho a se defender.
Alguns pais acham que, para tanto, é preciso mostrar que o mundo é dos fortes e dos espertos. Afinal, na natureza, quem não se defende acaba devorado.
Aqui em casa também temos nosso método de defesa. A diferença é que a nossa maior arma não é o muque mas a alma, que não tem, necessariamente, uma conotação espiritual, mas sensorial. No sentido e na percepção de que só há solução via coração. Aquele que entende que se a(o) amiga(a) não foi legal não faz o menor sentido praticarmos o mesmo mal. Afinal, um erro respondido com um ato errado só dá para virar dois movimentos equivocados.
Ah! Mas ele me bateu! Ela me xingou! Eles me zoaram! Sim, meu filho, infelizmente (ou naturalmente) nem todo mundo consegue ser cem por cento legal. Nós mesmos, invariavelmente, um dia vamos causar algum mal. Mas como você sabe que o que lhe foi feito lhe magoou, só há um jeito de contornar a situação: conversando e explicando que isso aí que a(o) amiga(o) fez não foi legal, não. Acredite, muitas vezes o outro vai perceber e vai lhe agradecer por você ter lhe dado essa orientação. Outras tantas, pode ser que o amigo não queira ou não saiba mesmo entender. Nessas horas só lhe resta se afastar. Quem sabe um dia o amiguinho acaba aprendendo e consegue conversar.
E se isso nunca acontecer, o filho não vai se incomodar porque ele aprendeu a se defender de um jeito que não tem igual: sendo um sujeito legal, valendo-se de suas melhores armas: o coração, a alma e a mente racional. Afinal, educação, gentileza e capacidade de reflexão são algumas das coisas que nos diferenciam do ser animal.
A criança que entende isso desde cedo e encontra em casa o apoio incondicional, cresce segura de que ainda que todo mundo faça o que ela acha errado, isso não vira certo, ou que o certo não se torna errado só porque o sujeito ali do lado não consegue entender que o mundo é muito maior do que seu individual quadrado.
Ademais, ela aprende que quem ainda não entendeu isso não precisa ser demonizado nem deixado para trás, porque no mundo real não há vilões nem mocinhos mas menininhas e menininhos, alguns que serão seus amiguinhos, outros talvez não. Afinal, exigir que uma criança goste de tudo e de todos é ilusão. Mas ensina-la a respeitar e bem conviver com esse sujeito estranho chamado próximo, diminui a distância, estoura as bolhas e humaniza.
Você está certa que essa é solução? Não! Claro que não. A história da humanidade nos mostra que as certezas absolutas jamais nos salvaram do caos. Mas minha desconfiança de que o caminho é esse me dá esperança e a temperança, com grandes doses de persistência, de que são essas as premissas para criar e guiar uma criança e sua existência em prol de uma humana convivência.
Imagem: Daily Mail – Sunny Pawar (ator que interpreta o Saroo, de Lion) e seus amigos da escola (aliás, recomendo assistir com os filhos, ajuda a estourar a bolha em que vivemos, com a realidade de uma história incrível e sensível)