Tenho dois filhos biológicos e um desejo enorme de adotar um terceiro e, quem sabe, um quarto.
Você é louca? Sim. Muito. Completamente e você não imagina o tamanho da loucura dessa mente.
Mas entre pequenas notas obsessivas-compulsivas, nessa melodia metódica que é meu dia a dia, há um desejo puro e genuíno de encher essa casa de filho. Daqueles que já vieram do ventre e outro(s) que, se tudo der certo e o marido não fugir, virão do coração. Porque, meu amigo, não há relação nessa vida se não vier da construção. Esquece essa coisa de sangue. É claro que sangue é bom, ajuda, aproxima, mas, como já disse tantas e muitas vezes, só ele não segura.
Então, dado que meu desejo é tão certo, apesar de não haver nada que não seja incerto, porque o que é correto e o que é errado não passam de formatos dos olhares que se dão para cada quadrado, deu uma vontade enorme de testar um novo modelo de texto-reflexão. Aquele em que a ideia vem enumerada. Mas não se engane, ela nunca é fechada e, sim, pode sempre estar errada na visão de outro coração. Mas vamos lá indicar cinco de tantas outras razões para se adotar:
1. Um(a) filho(a) adotivo(a) é apenas uma criança.
Por mais que ela lhe chegue com uma bagagem assustadora de rejeição, negligência e, quiçá, violência, é com você que se iniciará uma nova construção. E como criança é uma folha em branco, mesmo que a sua já lhe chegue riscada e rabiscada, como se trata de um pequeno ser em desenvolvimento, com muita pitada daquele tal de amor, carinho, acolhimento, paciência e compreensão, é sempre possível reverter a situação.
Ah! Mas a gente nunca sabe o que essa criança passou e o que ela é capaz de virar! Minha amiga, com um filho biológico você também nunca saberá. E, aqui entre nós, se você acha que uma pequena criança carrega um mal que não se pode curar, talvez, antes de adotar, é preciso conhecer um pouco mais sobre esses pequenos seres humanos em formação. Tenha vindo ele de dentro de você ou não.
2. Um(a) filho(a) adotivo(a) vai lhe dar muito trabalho.
Muito. Porque filho dá trabalho. Muito. Tenha vindo ele do ventre ou do coração. A diferença é que, quando seu filho biológico fizer coisas terríveis, na sua concepção, você vai se culpar. Ao passo que quando for o seu filho adotivo que aprontar, você culpará a adoção. E aí é que começa a confusão, com a inversão do problema e a consequente dificuldade de sua resolução…
3. Um(a) filho(a) adotivo(a) pode lhe gerar muita frustração.
Muita. Porque filho frustra. Porque sonhamos que aquela criança vai crescer e ser quem imaginávamos. Mas ela não somos nós. É só ela, mesmo. E quebra de expectativa gera muita frustração. A diferença é que, quando seu filho biológico não for quem você quer, você vai culpar o seu formato de educação. Ao passo que quando for o filho adotivo a ser quem ele quiser, você culpará a adoção. Mais uma confusão…
4. Com um(a) filho(a) adotivo(a) você vai realmente mudar a vida de alguém.
A dele e a sua. Porque filho vira a nossa cabeça de pernas para o ar. Tira-nos a capacidade de escolher o que ver na televisão e que horas acordar. Venha ele da barriga ou do coração. Pouco importa. Sua vida se entorta e você vai amar e jamais vai querer a vida sem ele, de volta. Ou vai querer, quando o caldo entornar e o sangue ferver. Mas, relaxa, porque em cinco minutos, passa.
5. Ter um(a) filho(a) adotivo(a) é o maior ato de doação que você fará em sua vida.
Porque com filho, biológico ou adotivo, ter é dar. Doar. Entregar. Preocupar. Enlouquecer. Enfurecer. Querer fugir. Querer voltar. Querer nunca sair. Querer nunca deixar.
Depois do rol acima alguém pode me contestar e acusar que não tenho a menor noção do que estou falando dado que ainda não tenho nenhum filho adotivo.
É verdade. Filho adotivo, ainda não tenho, não. Mas vou lhe contar a origem do desejo e suas razões: é que aqui em casa estou rodeada de relações de adoção. Padrasto que é quase mãe. Irmão, do coração. Irmão, do sangue, que é quase filho. Vó que era mãe. Mãe que é como irmã. Aliás, ainda entra na categoria de irmã uma amiga e duas tias.
Enfim… é tanta relação construída pelo coração que o fator consanguíneo fica, assim, quase um detalhe a se perder em vão.
Por isso, não duvido, aqui dentro há inúmeras razões para se ter um filho adotivo. E se para mim é um pouco mais fácil enxergar algumas coisas porque já tenho os que vieram de uma gestação, não posso deixar de compartilhar a reflexão.
E não se iluda, não vai ser fácil não. Porque criar e educar um filho, biológico ou adotivo, é, de longe, a mais intensa, incrível e árdua dentre qualquer outra missão.
Seus textos são cativantes. O dom de escrever e transmitir habita em você. Bjs
Zaíra! Muito obrigada!!