O ET chegou por aqui. Foi uma festa!
Houve quem achasse que era uma farsa. Mas se provou o real: era ele mesmo, de carne e osso marcial.
Mas a emoção da comprovação da vida além Plutão foi logo interrompida por uma danada comoção: o ET começou a chorar.
É que ali, no atlas escolar, ele olhou para cima dos trópicos, no canto superior esquerdo, e viu um sujeito com um penteado engraçado e um discurso sem graça, de se deixar assustado, querendo ser presidente de um país que, segundo lhe foi informado, domina todo o mercado. Pensou que esse pessoal deve estar muito abobalhado. Coitado…
Ele, então, desviou o olhar para a direita onde, segundo lhe contaram, existe uma tal cidade-luz. Mas ali por perto ele só viu trevas e um um povo largado, sujo, fedido e mal amado, chamado refugiado, mal instalado em uma acampamento que, não bastasse a desgraça, estava sendo derrubado porque o pessoal que morava ali por perto estava com medo de perder o emprego.
Nessa hora o ET chorou e quis ir embora. Não conseguiu entender como é que pode alguém preocupado com cargo enquanto tem criança chorando porque o pai foi degolado. E pai chorando por ter perdido a criança afundada no mar, porque não sabia nadar, mas como ninguém lhe deu outra chance teve que tentar atravessar.
Mas o ET, apesar de toda a desgraça, otimista que era, resolveu olhar um pouco para baixo, à direita. Encantou-se com o verde-azul de um mar sensacional, e logo se chocou com um mundo ainda medieval. A mulher tinha que se cobrir toda e era apedrejada viva se desonrava o marido. A menina era escravizada para servir a cama do inimigo. O ET chorou mais uma vez. Agora tinha certeza. ET-call-home. Alô. Socorro. Ele clamou.
Mas alguém lhe acalmou. Olha aqui para baixo dos trópicos. Onde o Cristo nos abraça do alto do morro. E nosso mais novo herói de chama Moro. Não temos guerra. Somos da paz. Acolhedores como ninguém. Pode vir curtir nosso sol, nosso samba, nosso suor e nossa cerveja. E o ET foi afogar a mágoa da alma com uma boa dose de caipirinha de limão. Finalmente ali alguém lhe faria sorrir. Mas, não. Quando viu, quis outra vez fugir. Mais um golpe em seu puro coração.
É que no meio daquele incrível carnaval, percebeu que a coisa era um verdadeiro bacanal. Que se podia desviar qualquer milhão sem ter aplicada a devida sanção. Mas se se roubava um pão, aí dava prisão.
E tinha mansão do lado de barracão. E tinha cão que comia a melhor ração e gente para a qual se negava um prato de feijão. Que confusão.
Aí o ET, coitado, não aguentou mais. Ligou para casa, disse que o caso era perdido, que lhe fossem buscar voando à velocidade da luz (ah sim… ele também soube que outro dia ali no passado tinham botado um sujeito incrível para morrer na cruz). E lá se foi o ET desconcertado para a casa.
Não tivemos a chance de lhe explicar que isso era só um pedaço muito estranho e infernal de um mundo onde, por aí, por incrível que pareça, ainda se tem gente sensacional escondida no meio do lamaçal. Pena que ele não teve tempo de achar e conhecer. Que bom que ainda estamos aqui e podemos dar a chance desse povo aparecer. Apareçam. Aparecemos. Melhoremos antes que sufoquemos.