Para mim é. Muito. Para muitos não é. Nem um pouco. Bom, daí é questão de gosto. E isso não se discute, mas se conversa. Por que não?
É verdade que carnaval é bagunça, multidão, suor, aperto, fantasia estranha que deixa a gente esquisita. É um bando de gente pulando daqui para lá, às vezes caindo acolá. Bebe-se muito. Às vezes a diversão vira confusão. É verdade. Mas ainda assim é muito bom.
Mas tem quem não ache a menor graça nessa multidão saltitante. Tudo bem. Tumulto é assim mesmo, tem que gostar para aguentar, se não, é melhor vazar. Correndo. Mas tem gente que gosta de folia. Porque, no final do dia, carnaval serve mesmo para extravasar aquela coisa contida na chatice da rotina. Afinal, se não está fácil para ninguém, por que não, no carnaval, fazer de conta que está? Porque carnaval é isso, é fazer de conta que somos pierrots e colombinas, super-heróis, super-heroinas, que somos nossos personagens prediletos ou aqueles que inventamos no improviso de acessórios antigos guardados há décadas em armários embutidos.
Carnaval é poder ser quem se quer. Inclusive ridículo e achar graça nisso. É poder pular atrás do trio, da banda, do bloco sem qualquer motivo. Não há o que se comemorar. Não se ganhou a copa, não se venceu a batalha. Ela ainda está lá. Mas a graça do carnaval é pular por dançar, por extravasar. E o legal mesmo é que a baderna pode ser familiar. É pai, mãe, tia, sobrinha, avó jogando serpentina.
E, cá entre nós, tem coisa mais democrática?
O solteiro tem licença para beijar à vontade (desde que não seja beijo roubado, forçado, mas combinado). O casado tem licença para festejar com o par. O filho tem licença para espirrar espuma de barbear (aliás, comprada pelo pai e mãe sob a forma de spray). E o pai e a mãe? Opa! Têm licença para lembrar que nunca é tarde para resgatar a tal criança interior e alguma outra coisa que ficou perdida entre fraldas e noites mal dormidas. Temos então, licença para tirar a fantasia do armário e pendurar por lá, ao menos por quatro dias, o médico, a advogada, a manicure, o empresário e o padeiro que, em horário comercial, mal têm tempo para respirar.
Mas agora é carnaval. Respire, inspire, transpire. E não há nada de mal em fazer de conta, por alguns dias, que tudo está sensacional. Aproveitemos. E para aqueles que não veem a menor graça, porque desfile de escola de samba lhe parece sempre tudo igual, aproveite para descansar, ficar em paz e deixar pular quem quer fanfarronar. Porque, afinal, logo mais tudo volta ao normal, com o noticiário deixando a bagunça da avenida para voltar a cobrir o japonês da Federal, o Carnaval da Capital e seu arsenal de malandro profissional.
Imagem: casablanca.tur.com.br