Filho é incrível. Mas não é fácil. E quando ele chega traz junto com a magia da maternidade a dificuldade da realidade. E muitas vezes a saudade da época em que havia só você e o marido.
Ou traz a dúvida se realmente era esse o pai que você idealizou para seu filho. Ou se era essa a mulher que você sonhou para a mãe do seu. E vem a confusão, e lá se vai o tesão ou vem a sensação de rejeição, e depois se perde a admiração e a vontade de ficar junto e a decisão de não mais ficar. Separação.
A história é tão usual mas quando é com a amiga ali na vida real parece que não há no mundo nenhuma tragédia igual.
E por que isso acontece? Bom… Se soubéssemos as exatas causas talvez teríamos a certeira resolução. Mas a vida não é simples assim, não. Porque para assunto complexo não há simples solução. Mas precisamos falar sobre o que normalmente fica velado e não é falado quando se aguarda a chegada do filho amado. E se aqui não somos cientistas, dotamos de algum conhecimento empírico que nos permite fazer a reflexão.
É amiga… não é fácil retomar as rédeas da situação quando chega um filho dominando a relação. E por mais que não se queira e não se permita essa dominação, não há como escapar do fato de que o filho chega ali no meio de quem antes não o tinha.
A ideia é que ele venha para somar, multiplicar. Mas a realidade, para alguns casais, é que ele acaba por separar ou, se se achava que ele iria ajudar uma crise anterior, muitas vezes, com ele, vem de vez o fim do amor.
É claro que não se pode responsabilizar a criança. E menos ainda culpar exclusivamente um dos cônjuges por ter entornado a balança. É que, geralmente, se a relação espanou é porque alguma coisa, dos dois lados, faltou.
Ainda na generalidade, quem costuma sumir depois de se parir é a parceria. Essa coisa que nos une na alegria e que deveria aumentar ainda mais na agonia.
Mas é justamente na hora do aperto que a parceria teima em se soltar. Justo quando o barco balança, era ela quem deveria fazer juntar a mão do casal para dizer, calma, segura, aguenta firme que passa. Mas, muitas vezes, não é o que ocorre, não.
Porque parceria não é só ajudar, é estar, é abraçar, é dar o ombro para o outro chorar, é conversar abertamente sobre o fato de que está mesmo difícil dar alguma outra coisa que não seja para o filho mamar. É falar, falar e falar sobre o que está difícil suportar, sobre o que dá para tentar aliviar, sobre como a gente pode voltar a se encontrar.
Parceria é se somar, se dividir, saber a hora de ceder, saber a hora de pedir, saber a hora de compreender e entender que tem hora que a gente quer mais é desabafar.
É, sobretudo, saber discutir, brigar, desafogar o peito sem nunca ultrapassar a barreira mais importante da relação: respeito. Porque, minha amiga, quando esse se vai é difícil trazê-lo de volta. E como respeito carrega em si um grande juízo de valor, cabe a cada casal estabelecê-lo para não perdê-lo.
E nessa parceria de estar e compartilhar e apoiar, há outro elemento fundamental para quem ama: a parceria na cama. Aquela que quando vem filho tende a ficar suspensa. Mas veja bem, meu bem, suspensão não é extinção e nem aberração. Porque nada mais normal do que a pausa na vida íntima do casal quando o filho chega. Mais uma razão pela qual é preciso parceria para se ajudar a retomar o que se pausou. Para não deixar extinguir o fogo que, naturalmente, baixou.
É claro que se ele apagou, exterminou, evaporou, às vezes não há mesmo nada a ser feito a não ser finalizar aquela história que, ao contrário do discurso padrão, deu certo, sim, por um tempo. Afinal, exigir que só seja bom o que não acaba é contradizer a própria felicidade, que é efêmera e vai e vem e solta e volta sem deixar de sê-la.
E se chegamos até aqui na reflexão resta-me desejar aos meus amigos casais, recentes pais e que não estão se encontrando mais, que se deem as mãos. Segurem-se firme enquanto o barco balança, e acreditem na parceria para retomar a bonança.
Mas se ainda assim o barco virar de vez, afogue a sensação de fracasso. Tome as rédeas de seu recomeço. Porque, como dizia o poeta, não há mal pior do que a descrença. Porque amar e tentar e tentar mais uma vez e sempre que possível, sempre compensa. E se o amor não perdurou eternamente, não significa que fracassou. O importante é que se tentou.
Tentemos. Às vezes, muitas vezes, resolvemos. Outras tantas, não.
Para qualquer uma, estaremos sempre aqui, com ombro, colo e reflexão. Porque precisamos falar sobre isso. Muito. Sempre.