Confesso. Não sei fica parada. Não consigo. Em casa quase não sento. É que quando vou parar lembro que tem sempre alguma coisa que pode ser feita. Nem que seja colocar etiqueta em gaveta. Adoro etiqueta (já disse que qualquer dia viro uma versão de “Dormindo com o Inimigo”. É um perigo).
Já pratiquei surf, yoga, ballet, jazz, sapateado, aeróbica. Hoje, quando dá, corro ou pedalo ou caminho ou faço trilha ou faço aula. Pego peso, pego pesado, às vezes só vou pegando no tranco, mas vou. Quando dá. Porque depois que se tem filhos perde-se a autonomia sobre o próprio tempo, quiçá para treinar.
Mas tem uma modalidade que há anos eu tento. Treino. Pratico. Às vezes consigo, às vezes não chego perto. Às vezes acho que virei atleta profissional, mas na primeira recaída lembro que sou amadora e caio na real.
Talvez nunca consiga. Talvez consiga um pouco. Tem dia que estou expert. Tem dia que a atuação é vergonhosa. É meu maior desafio.
É o equilibrismo.
Não. Não me penduro em nenhuma corda bamba. Não giro pratinhos sobre palitos compridos (embora muitas vezes valho-me da analogia para lembrar da quantidade de atividades e afazeres e responsabilidades que tento manter em pé ao mesmo tempo).
O equilibrismo aqui é aquele da mente, da alma, do coco às vezes duro, do miolo às vezes mole.
Minha amiga, você não imagina a loucura que é balancear os pensamentos, as vontades, os desejos, as sanidades insanas dessa tal mente humana. É que qualquer deslize, qualquer bobeada, o excesso aparece e vem a escorregada. E o bastão que o pensamento carrega ali na corda bamba da alma pende para algum lado e o derruba para um extremo que não é nada equilibrado.
E quando se trata de comer, para quem realmente a água na boca dá enorme prazer, fica fácil devorar tudo o que se vê pela frente e depois decidir que nunca mais vai comer nenhum doce. Ou que vai passar um mês tomando sopa. Ou ir na academia todos os dias por uma semana e, na próxima, não aparecer nem por meia hora. Ou decidir restringir o carboidrato ao máximo, e depois se entupir de bolacha.
É fácil, ou parece ser, radicalizar, ou escolher o radical. É fácil quando a meta é caber naquele vestido. Ou tirar a canga no final de semana com aquele amigo. É fácil ter na mente aquele evento. Mas quando ele chega, o pensamento e o ato radical viram vento.
É que o problema é radicalizar para o resto da vida. E aí mora o perigo. É esse o inimigo: o tempo de validade do que se radicaliza. Ele não mente mas tem perna curta. É que a gente não aguenta muito. E quando cansa, ou se esgota, ou perde a motivação inicial, fica cada vez mais distante do objetivo final e volta-se rapidamente à cruel estaca zero.
Daí porque, meu caro amigo, é difícil esse tal de equilibrismo, seja em relação à comida ou qualquer outra coisa da vida. E, ao que tudo indica, chega-se ao pódio (seja ele qual for) quando se domina aquela coceira que dá de radicalizar. De jurar que dessa vez vai porque você nunca mais vai comer ou fazer alguma coisa. De prometer que vai na academia todos os dias sem falta. De fazer qualquer coisa, por pior que seja, para ter o resultado mais rápido. Pode até ser que ele seja atingido, mas, sinto lhe dizer… ele não será mantido.
Vence (aquela vitória que se mantém, que perdura e não é perdida no primeiro final de semana ou na primeira recaída) quem dominar a maravilhosa arte de equilibrar.
Mas não se iluda, a balança da mente é mais traiçoeira que aquela ali do banheiro, que insiste em não diminuir o ponteiro, e vai lhe pregar peças quando achar que está tudo dominado e equilibrado.
É provável que o segredo para o profissionalismo no equilibrismo seja encontrar o saudável sustentável por tempo indeterminável. Mas por vezes a gente duvida se isso é mesmo viável.
O importante é não desistir. Afinal, a esperança, essa sim, é equilibrista profissional, e dança, samba, corre, pedala, malha e treina ali na corda bamba sem cair.
E um dia a vitória final há de vir. E trará o melhor prêmio: a revelação do segredo de saber pensar e fazer e comer e viver de tudo um pouco, sem privação mas com moderação e, principalmente, duração.
Daí porque o ministério, ou melhor, o mistério da boa saúde adverte: praticar o equilibrismo faz bem ao corpo, à alma, à mente, a toda a gente.