Segundo a ciência, parece que ainda não se tem muita certeza da real razão pela qual sonhamos. Para a psicologia, seria um manifesto de nosso inconsciente, para a neurologia, o sonho teria como função a manutenção da memória.
Mas se nem a ciência sabe bem ao certo, eu sei.
Sonhamos para alimentar a alma.
Aquela coisa que não enxergamos mas temos certeza de que existe em algum lugar dentro ou em volta de nós. Aquela coisa que nos faz arrepiar com uma paisagem estonteante, que nos faz tremer o coração com o calor de uma paixão, que nos faz doer lá dentro de alguma entranha desconhecida quando amamos quem não nos dá contrapartida. Que nos faz chorar de alegria e gritar de agonia.
Por isso sonhamos, fantasiamos, imaginamos, ilusionamos.
Engraçado que, para uns, isso tudo é bobagem. Porque bom mesmo é viver com os pés no chão.
Ah, meu amigo, perdão. Para mim isso não funciona, não. Deve ser um defeito da minha alma, essa coisa sedenta pela emoção, nem que seja do mais clichê dramalhão. Ou seria culpa dos astros que me fizeram nascer sob o sol de Aquário e viver as loucuras do imaginário.
Mas se a vida real no fundo é muito mais legal e é aquilo mesmo que se quer, resta à minha alma viajar alto e sonhar e imaginar e se encantar. E que sorte a minha ter sempre à mão as melhores ferramentas para alimentar a imaginação: uma delas a arte, principalmente a sétima. E ali, na tela, minha alma se entrega e viaja e ama e chora e se derrama.
E essa deliciosa fuga da vida real está especial nessa semana.
Na segunda-feira foi A Garota Dinamarquesa e sua incrível história, não só daquele que queria ser quem não era, mas daquela de um amor tão genuíno que na situação mais insólita de um casal lhe deu a mão, não obstante lhe sangrasse o coração.
Na terça, as águas e as lágrimas rolaram com O Quarto de Jack e seu outro amor, aquele incondicional que a gente sente por essas pequenas criaturas que saem da gente. A torneira desaguou vendo ali, retratado, esse amor insano que ora nos faz doar, ora nos faz surtar nas delícias e delírios de ter um filho para criar. Justo ontem que foi um daqueles árduos dias em que se quer fugir de quem mais se quer ter para toda a vida.
E hoje até na sessão da tarde deu tempo de sonhar e deixar mais água vazar. Procurando Dori me fez achar coisas incríveis. As crianças nem estranham mais. A mamãe é mesmo uma pessoa esquisita e chora vendo um dinossauro bonzinho ou um peixe desmemoriado.
E então, como estou nessa fase da reflexão com confissão, deu vontade de fazer mais uma: sim, sou uma sonhadora, daquelas clássicas, que chora da novela ao filme na tela, passando pela propaganda de margarina. Que torce pelo final feliz e, quando ele não é, assim, o tipo padrão, quase desidrata de tanta água que vai ao chão, vide Como Eu Era Antes de Você, que quase me fez ficar para a próxima sessão. Não conseguia levantar.
Isso sem falar nas paixões platônicas pelos personagens mais banais, tipo vampiro Edward, Christian Grey, Lancelot via Brumas de Avalon. Meu marido já se acostumou e acha graça, afinal, nenhum deles o ameaça. É só fechar o livro que eles voltam para seu devido lugar e função: alimentar a alma com as fantasias da imaginação.
Porque não tem coisa mais sensacional do que, depois de um sonho belo ou surreal, abrir os olhos e ver quem está ali de carne e osso, de verdade, na parceria para a alegria, na fortaleza quando bate a tristeza, no pão nosso de cada dia. E se o sonho alimenta a alma e a acalma, acordar e viver o que é real não tem igual.
Sonhemos. Acordemos. Vivemos.