Ano novo, vida nova.
A gente pensa que sim mas, na verdade, não.
É só mais um dia. É só o dia seguinte. Mas é fundamental.
Porque nossa racionalidade vive (ou deveria viver) em absoluta simbiose com nossa subjetividade. E é esta aqui que clama por um recomeço. Aquele onde seja possível consertar o que se equivocou, alcançar o que não se agarrou, tentar mais uma vez aquele lugar onde não se chegou.
Nossa subjetividade precisa ter por concreta mais uma chance, seja lá para o que for.
Daí porque, passada a ressaca do dia 1, para aqueles que, como eu, levam a profissão tão a sério quanto a diversão do dia 31, o dia 2 é imprescindível para começar ou recomeçar ou retomar ou planejar ou prometer ou se comprometer ou definir ou garantir ou, ao menos, interiorizar que, nesse novo ano vai tentar. Tentar ser melhor, seja lá no que for.
Para isso nossa racionalidade que conhece a realidade de que é só mais um dia após o outro dá espaço à subjetividade que acredita e tem fé que é um dia novo, de um ano novo, com 365 novas possibilidades.
E se em 2017 estudei menos do que deveria, fui menos paciente com minha cria do que gostaria, cuidei menos do corpo e da mente do que Freud indicaria, gastei mais tempo em porcaria em prejuízo da otimização da energia, tá aí uma ótima oportunidade para, depois de amanhã, dar uma nova chance para melhorar. Para focar mais no que importa, para brincar mais com os filhos no chão, para abrir mais o coração, para lembrar mais que o marido também é namorado, para estar mais com os amigos aqui do lado, para viver mais a realidade da água, da terra, do ar, para olhar menos a tela do celular.
Enfim, que amanhã (ou depois de amanhã, para quem enfrentará um longo dia um, pós dia trinta e um) possa ser o começo de um novo recomeço.
Que se passe a régua no que ficou.
Que novas metas sejam estabelecidas, ainda que antes do meio do ano não sejam mais cumpridas.
Que novos caminhos sejam traçados, ainda que depois do carnaval outros horizontes sejam buscados.
Que seja tudo novo, ainda que antes do outono já estejamos no bom e velho de sempre.
Não importa o que se resolva, o que se prometa, o que se estabeleça. Mas que se esvazie a esponja cheia das delícias e delírios do ano que passou, para que se dê espaço a novas alegrias e agonias que virão.
Porque é só mais um dia, ou não.
Feliz novo recomeço!
Imagem: Noite Estrelada sobre o Ródano – Vincent van Gogh